«Onde está a antiga nogueira cujas raízes
 entravam pela água? Sei que os seus ramos se partiam
 de cada vez que o ribeiro enchia; que as folhas
 se espalhavam pelo tanque, antes de se afundarem,
 formando um lodo em que os pés escorregavam;
 que o barulho das rãs ecoava na sua copa, enquanto
 a noite se agitava com o vento frio que trazia
 o outono. Mas de nada me serve este conhecimento,
 agora que nada me diz se a nogueira existe, ainda,
 nessa margem onde me sentei, ouvindo as rãs
 e o vento, sem que me apercebesse do trabalho do tempo
 no fundo das raízes. Ou antes: o que ele me dá é
 uma inquietação áspera como o sabor das nozes
 que se colhiam dessa árvore. Atiro-as para o armazém
 da memória onde as sombras se acumulam; e
 entro nessa árvore, como se fosse uma casa,
 ou como se as suas ramagens se abrissem
 num bater de asas impotentes para o voo.»

Vegetação de Infância

 

 

Nuno Júdice 

Teoria Geral do Sentimento 

 

 

 

 

 

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